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setembro 13, 2010

Sobre a Identidade

     Quem és, quem sou? Todos fazemos estas perguntas várias vezes durante a nossa existência. E quais as repostas a que chegamos, ou melhor, como chegamos a resposta a esta pergunta, que aparenta ser tão simples, mas guarda em si uma complexidade importante, como nos mostra o Psicólogo brasileiro Ciampa (2001).
    A resposta a estas perguntas dizem respeito a nossa identidade, que vai se formando antes mesmo de existirmos no mundo, quando nossos pais, ao pensarem nosso nome, nos vão fundando, entretanto tal identidade só é efetivada com o nascimento, e com o nosso nascimento fundam-se outras identidades, como a de pai e mãe, daqueles que nos geraram, que necessariamente deixam de ser filhos para serem pais, ao mesmo tempo em que continuam a ser filhos. Assim a resposta a pergunta de quem somos, ou as respostas, referem-se a um conjunto de representações que respondem a esta pergunta. Voltando ao nosso nome, ao mesmo tempo que ele nos diferencia, o sobrenome nos iguala aos demais familiares, assim, o processo identificatório é um continuo diferenciar-igualar.
    Mas a final, como se constitui a identidade? Como referido acima, trata-se de um fenômeno biológico-social. Biológico, porque ela necessita de um corpo físico para existir, entretanto tal fato não é suficiente para garantir a identidade, pois ela trata-se de um fenômeno que se constitui na relação deste organismo com os demais (com seus pais, antes mesmo do nascimento, que vão fundando física e socialmente o filho) e é justamente na existência social, na experiência relacional que um conjunto de representações de mim vão sendo forjadas ou formadas, garantindo a minha existência. Dito de outra maneira, é no exercício dos papéis, ou de meus nomes (substantivos) que minha identidade existe.
     Se preciso de um corpo físico para que a identidade possa habitar, e de um espaço social para que possa acontecer, estamos admitindo que para que possamos entendê-la, reconhecê-la é fundamental compreender não só as leis orgânicas (físicas) de sua constituição, mas principalmente do momento histórico-social que nossas identidades vão sendo forjadas, o que de acordo com Jacques (1998) significa reconhecer que as possibilidades ou impossibilidades de ser o que se é em determinado tempo e espaço , são decorrências do contexto histórico e social em que se vive. Por conseguinte, como assumimos que é produtor e produto do contexto que experiencia, é produto e produtor de sua identidade, nas palavras da autora supracitada "personagem de uma história que ele mesmo constrói e que por sua vez o vai constituindo" (p.163).
    Portanto para compreender a identidade é necessário reconhecer a sua fluidez, ou seja, a sua necessária "metamorfose" como refere Ciampa (2001). Reconhece-se que a identidade é um processo que sofre mudança constante, com a emergência de novas representações de mim mesmo em mim mesmo. Da mesma forma, necessitamos aceitar a dicotomia igualdade-diferença, ou seja, o sujeito é o único e ao mesmo tempo pode ser mais um de um mesmo grupo. Também necessita a articulação "caótica" de uma conjuntura que é individual, mas social ao mesmo tempo; possui uma estabilidade e ao mesmo tempo apresenta-se em constante transformação; refere-se a igualdade e à diferença, na sua unicidade e na sua totalidade (filho/filho-pai-marido-professor-etc). Isso significa aceitar o fato de que sou mais que o nome, mas o exercício dele.
    Para finalizar recorro às palavras de Jacques (1998, p.165) "a identidade é aprendida, através da representação de si em resposta a pergunta 'quem és'. Esta representação não é uma simples duplicação mental ou simbólica da identidade, mas é resultado de uma articulação entre a identidade pressuposta (derivada do papel social), da ação da ação do indivíduo e das relações nas quais está envolvido concretamente".

Abraços, Felipe

setembro 12, 2010

(Re)flexões

   Nas horas em que o sono foge, aparecem os lampejos de uma mente que luta para pensar, para refletir sobre a vida e a experiência. E nestas horas em que o silêncio e a escuridão da noite fecundam o exercício filosófico,  fico a devanear sobre o mundo, as coisas, os homens, as vidas.
   A cada dia que passa vamos assistindo a uma perda gradativa, por vezes nada lenta, da capacidade que nos diferencia dos demais animais que é a capacidade de pensar, parece que pensar está faatigando, cansando, exaurindo o pensante, de tal forma que se quer ele se arrisca a pensar. Simplesmente produz, copia, imita, não flexiona, não pensa, não cria, nas palavras de Pucci, "não fala com a própria boca e pensa com a própria cabeça", ação esta que tem se tornado escassa. Quando aparece é marcada até como loucura, ou alta prosopopéia.
   Mas o que pode estar fundando este sujeito novo, "moderno", pós-moderno, contemporâneo, líquido, enfim que nem tem nome definido ainda? será que já temos respostas para esta pergunta? De onde podemos pensar? Podemos imaginá-lo fruto de um sistema, mas seria simplista demais, podemos pensar que é a marca da égide do ter, e não do ser, do consumo, do hedonismo, da farsa da felicidade anunciada, prometida e que nunca se efetiva. Mas estas explicações não mudam os fatos, talvez servem para que possamos compreender, ou tentar explicar as mudanças, ou a forma como o Homo liquodernus, está constituido.
   É na realidade que podemos entender, criticar, agir, pensar. Esta última, como a ação que está sendo apagada das características filogenéticas humanas.

Abraços