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setembro 12, 2010

(Re)flexões

   Nas horas em que o sono foge, aparecem os lampejos de uma mente que luta para pensar, para refletir sobre a vida e a experiência. E nestas horas em que o silêncio e a escuridão da noite fecundam o exercício filosófico,  fico a devanear sobre o mundo, as coisas, os homens, as vidas.
   A cada dia que passa vamos assistindo a uma perda gradativa, por vezes nada lenta, da capacidade que nos diferencia dos demais animais que é a capacidade de pensar, parece que pensar está faatigando, cansando, exaurindo o pensante, de tal forma que se quer ele se arrisca a pensar. Simplesmente produz, copia, imita, não flexiona, não pensa, não cria, nas palavras de Pucci, "não fala com a própria boca e pensa com a própria cabeça", ação esta que tem se tornado escassa. Quando aparece é marcada até como loucura, ou alta prosopopéia.
   Mas o que pode estar fundando este sujeito novo, "moderno", pós-moderno, contemporâneo, líquido, enfim que nem tem nome definido ainda? será que já temos respostas para esta pergunta? De onde podemos pensar? Podemos imaginá-lo fruto de um sistema, mas seria simplista demais, podemos pensar que é a marca da égide do ter, e não do ser, do consumo, do hedonismo, da farsa da felicidade anunciada, prometida e que nunca se efetiva. Mas estas explicações não mudam os fatos, talvez servem para que possamos compreender, ou tentar explicar as mudanças, ou a forma como o Homo liquodernus, está constituido.
   É na realidade que podemos entender, criticar, agir, pensar. Esta última, como a ação que está sendo apagada das características filogenéticas humanas.

Abraços

3 comentários:

Angel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Angélica disse...

Felipe, parabéns pela reflexão!
Fiquei pensando no quanto isso complexifica a prática psi, que é justamente provocar o pensar. Paradoxalmente, hoje em dia se fala cada vez mais na busca por tratamento psicológico e pelo trabalho do psicólogo nos mais diferentes contextos, mas ao mesmo tempo se observa uma "força" na direção desse não pensar, força à qual também estamos submetidos, por vivermos no mesmo contexto, cultura, sociedade, etc. Talvez aí esteja um de nossos maiores desafios: não esquecer de nosso papel, que é, em pequenas intervenções ou em grandes questionamentos, inaugurar esse pensar.

Felipe Biasus disse...

É isso ai Angélica. Adorei seu comentário!