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maio 25, 2011

Duplo Sentido

O título deste post é sugestivo, estaria seu autor tentando escrever numa perspectiva pitoresca, sarcástica, bucólica, dramática, por fim ambígua? A resposta simples, direta e objetiva é não! A provocação deste texto é justamente trazer ao palco do debate a ideia do construcionismo, de maneira coloquial, quer tratar do fato de que nós, ao construirmos o nosso eu, construimos o espaço social que coabitamos e este por sua vez nos constitui.

Assim, ao fazer parte de um problema, inexoravelmente o mesmo ser humano já está colocado numa posição de fazer parte da solução deste problema, é a isto que estou chamando de duplo sentido. Numa conjectura popular de que "tudo que vai, volta", assim também compreende-se a construção do social e do eu individual, não simplesmente no relação estímulo-resposta behaviorista, mas sobretudo numa perspectiva sócio-histórica, em que a história do humano, o faz humano, assim como forja o social, que está presente na história deste humano e igualmente forja o individual.
Não somos uma ponte sem cabeceiras, perdida no meio de um rio, mar ou lago. Somos um caminho contínuo, somos resultado das idas e vindas na ponte, ou mesmo a própria ponte.

Para diminuir a "alta prosopopeia" como diz Rui Barbosa, o que quero provocar com esta reflexão é marcar que nós fazemos parte, inclusive daquilo que não gostamos. Por exemplo, fazemos parte da corrupção existente no nosso país, por mais que não corrompamos ninguém, criticamos a corrupção, mas não agimos para mudá-la, aliás é possível até que no mês passado, tenhamos sonegado algum bem ou receita para diminuir o imposto de renda. Somos participantes da má qualidade da saúde, afinal o que estamos fazendo para mudar, melhorar.

Quero provocar aqui a mobilização, o movimento, provocar a transformação social, não a mera mudança social. Quero declarar que fazemos parte do terrorismo, da violência, das guerras, do consumo desenfreado, assim como fazemos parte das conquistas, das lutas por melhorias, ou seja, fazemos parte de tudo que se apresenta aos nossos olhos e isso não tem nada de ruim ou desesperador. Conceitualmente, isto significa que podemos participar da mudança e da transformação, portanto pode ser esperançoso, e não o seu revés.

Entretanto não podemos esquecer que nosso modus operandi, nos últimos tempos tem sido unicamente individual, agimos, fazemos, pensamos, sentimos, exclusivamente individualmente, ou seja, se a rua está fechada por um protesto, ou mesmo uma procissão para enterro, queixo-me, pois tal situação alterou minha rotina (aqui seria o trânsito que estou acostumado fazer para ir de meu trabalho a minha casa). Não me toca "positivamente" a mobilização de outrem, pois a leio de maneira individual, " o que EU vou ganhar com isso?"

Bem, retornemos ao título - duplo sentido - se até mesmo no saber do senso comum, falamos que "o que vai, volta", está ai um motivo para que possamos pensar, coletivamente, algumas vezes, sem que para isso, eu vislumbre somente o MEU ganho, a MINHA vitória, mas também a satisfação e uma situação diferente, minimamente melhor, para os outros que também transitam, participam e constróem o NÓS, que é conhecido como SOCIAL.

maio 09, 2011

Um abismo entre dois mundos...

Muitas vezes as pessoas passam um tempo grande de suas vidas tentando preencher um espaço, que podemos descrever como a distância entre dois mundos. E esta analogia parece bastante inspiradora pelo que vamos tratar, pois é paradoxal, afinal não existem dois mundos apenas um, porém se nos permitirmos pensar brevemente a existência destes dois mundos, podemos ter o seguinte.

O primeiro mundo, representa aquilo que está distante, quase possível (portanto impossível por definição), é o que consideramos como nosso ideal, aliás muitas vezes este ideal transforma-se no objetivo ou meta final, o que acaba por aumentar a carga e o desgaste de energia tentando preencher o espaço entre mundos. Com isso já estamos tratando do outro mundo (aguarde que já tratamos dele). Neste mundo ideal, colocamos tudo aquilo que a imaginação permite, portanto tudo ou quase tudo, para não ser tão extremado na definição, trata-se de fantasia e por essa razão impossível pois não é real e nem pode vir a ser real, uma vez que identificado como ideal está configurado para sempre sofrer uma mutação. Desta forma por mais próximo que possa chegar do ideal (impossível) ele sofrerá uma mudança e consequentemente mantêm-se ideal.

Não quero confundir com o sonho, como um desejo possível que trabalhamos e tentamos conquistar, elemente essencial a vida humano.

No outro mundo, está o real, aquilo que temos acesso, vivemos, sentimos, cheiramos. Nem sempre saboroso, perfumado ou desejado, porém aquilo que está ai. É nele que passamos todo nosso tempo, e é este mesmo mundo que tentamos negar, fugir, correr em busca do ideal, e com isso passamos horas, horas e mais horas na ação e tentativa de preencher com alguma coisa o espaço entre estes dois mundos na tentativa de construir uma ponte ou uma passagem.
Por quanto tempo ainda vais fugir
de você e da realidade?

Falácia!

Como definido, o primeiro mundo é somente quase possível, portanto impossível, e na vã tentativa de ligação entre os mundos, perdemos a chance de viver tudo aquilo que o real nos apresenta e por vezes ficamos incapacitados de pensar, sentir, analisar e responder a tudo que existe de fato na nossa vida real.

E o tempo? O tempo vai passando, e junto com ele, o abismo permanece, por vezes este abismo configura-se no próprio sentido de nossa experiência de vida, um vazio, indefinível, talvez adquirindo as características de um buraco negro, sem fim nem espaços para segurar-se. Transmutando o real.

maio 01, 2011

Talvez, o mais importante é viver...


Não raramente, em atividades, assessorias, trabalhos com grupos de profissionais da educação, trabalhos com alunos, no cotidiano dos amigos, percebe-se que buscamos explicações para tudo que nos acontece. Temos uma certa "tendência cientista" a procurar e dar explicações para os mais diferentes fatos, aliás as mais diferentes explicações. Como refere Rodrigues (1999) "somo epistemólogos leigos" ao tratar da temática da atribuição de causalidade na Psicologia Social.

E seguimos nossos dias, tratando de explicar tudo que acontece ao nosso redor, seja o casamento do príncipe, a violência do Rio de Janeiro, o comportamento do vizinho da rua que bate na mulher, as frases dos amigos no msn, enfim, em tudo buscamos construir teorias para que possamos dar conta de explicar, ou compreender o que está ocorrendo.
Isto é fato, já está documentado na literatura científica que este comportamento é comum em todo ser humano, uma vez que qualquer evento ou objeto que chegue até nós através de nossos órgãos do sentido, irá sofrer uma análise, uma interpretação que desencadeara, se for o caso, processos cognitivos para dar conta de tais fenômenos, até para que possamos conviver com eles.

Dito isto, não quero fazer uma apologia a um comportamento contrário, mas quero provocar o leitor a tentar experienciar uma outra dinâmica de funcionamento. Meu convite é para que, ao invés de buscar explicar tudo que acontece em sua vida, busque viver intensamente as experiências, o seu cotidiano, o seu "último minuto" - nenhuma alusão a morte - pois muitas vezes, na busca desenfreada por explicações, justificativas, prerrogativas, acabamos por perder grandes chances de viver "a vida como ela é" na sua mais simples e singela beleza.

Um grande abraço a todos e um ótimo início de semana!

Ah, e antes de esquecer, parabéns a todos os trabalhadores, afinal hoje é nosso dia! Trabalho que serve para dignificar, identificar, personalizar, mas por vezes escraviza, faz doer e até mata!