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janeiro 30, 2008

Faculdades Virtuais

Hoje quero falar um pouco, e de maneira insipiente, sobre as faculdades virtuais, que a cada semestre proliferam-se pelo interior do país, mas também nas capitais, enfim no Brasil inteiro.
Não sei se o leitor sabe, mas elas têm o mesmo valor que um curso "real", no qual o aluno vai para sala de aula todos os dias da semana e tal. Sim no final do curso você recebe um diploma que tem reconhecimento do órgão fiscalizador e normatizador da educação - MEC, além de investir financeiramente menos, pois os cursos têm um valor baixo, aliás bem baixo se comparado a qualquer universidade "real" de ensino superior. Sem contar que em algumas dessas escolas virtuais o aluno termina o curso em tempo reduzido.
[Por ex.: Pedagogia na Universidade "real" = 5 anos, aula todos os dias da semana respeitados períodos de férias; já na faculdade virtual, aula uma ou duas vezes por semana, durante 3 anos, respeitados períodos de férias.]
Lembre que afirmei anteriormente, os diplomas têm o mesmo peso!
Mas e o ensino? A aprendizagem? Como é?
Conversei com algumas pessoas que trabalham com esta nova forma de ensino - o ensino à distância, o virtual, e elas reiteram que é uma forma muito boa, o aluno precisa se envolver, precisa fazer trabalhos, provas, muitas leituras e assim vai. O professor também precisa acessar por um tempo mínimo o sistema e realizar um mínimo de operações para manter-se e por ai afora.
Apesar de tudo isso, não consigo conceber este tipo de formação e vou tentar mostrar o motivo de maneira bem objetiva:
1 - O brasileiro não têm por hábito estudar, ou seja, buscar livre e espontaneamente investigar, ler, estudar, duvidar, questionar. Poucos fazem isso.
Conforme as pessoas que conversei, a característica que os alunos das faculdades virtuais precisam é de um quase auto-didata, e essa característica é rara em nosso país.
2 - Eu não consigo acreditar numa educação sem relação, ou numa relação que o próprio nome diz, à distância. As discussões de sala de aula, as trocas professor aluno, elas não acontecem.
Numa das conversas que falei antes, uma pessoa que trabalha como monitora de turma me falou: "Felipe, as aulas tem hora pra começar e terminar e todos os lugares que têm esse curso tem a aula no mesmo horário, é um professor para todos, a linguagem é a mesma..." Fiquei me perguntando, digamos que o curso X têm 50 alunos por turma em 10 diferentes cidades (500 alunos). Conforme a informação da pessoa, estes 500 alunos terão aulas no mesmo horário em locais diferentes, sendo que normalmente a aula dura duas horas. Até aqui tudo bem, entretanto perguntei: "digamos, que durante a aula, 5 alunos em cada turma (50 alunos) façam perguntas, o professor "virtual" às receberá em seguida, pois a sala de aula é equipada com um computador ligado a rede mundial, para se comunicar instantaneamente com o professor, ele responderá às perguntas?" E para meu espanto a pessoa disse sim. Então pensei, "se 50 alunos fizerem 50 perguntas, o professor vai levar no mínimo 50 minutos para responder a todas as perguntas, portanto uma aula respondendo pergunta, sendo que ele têm conteúdo para duas horas de aula sem interrupção, isso é impossível!" E a pessoa respondeu: "mas eles fazem uma seleção das questões, muitas vezes são as mesmas..."
Depois de falar sobre isso, encerramos nossa conversa sobre a educação à distância.
E o pior de tudo isso, essas faculdades lançam no mercado de trabalho "profissionais", pessoas que se dizem capazes de executar as atividades que aprenderam, e o fazem, por vezes, por salários enormemente mais baixos que o normal e a cada dia as profissões vão tornando-se prostituídas. E aquele órgão fiscalizador e normatizador da educação (MEC) autoriza, e contabiliza os formados como números de pessoas com curso superior no país. Esse mesmo órgão avalia os cursos em universidades e de maneira bem rigorosa (com o que eu concordo totalmente), mas deixa barbaridades, como essa que abordei nest post, acontecer.
Como referi no primeiro parágrafo, me propus a escrever essa reflexão, sem conhecimento profundo do assunto - educação à distância, mas com conhecimento de algo que é imprescindível para que nos tornemos cidadãos e pessoas saudáveis psiquicamente, a relação olho no olho, o toque, a proximidade, no trabalho, na educação, em casa.
Imagine você um curso de psicologia, fisioterapia, medicina, virtual! Impossível até de imaginar né?! E por qual motivo aceitamos que cursos como pedagogia, administração, serviço social, entre tantos outros, aconteçam nesta modalidade?
Convido você para comentar este post ou pelo menos refletir sobre ele!

3 comentários:

helo. disse...

Oi oi feli
Muito bom o texto, e tema bem escolhido ;D

Boa sorte c/ o blog, espero que se distaque em meio a tantos, se depender de mim vai (y)


;*

Felipe Biasus disse...

Valeu Srta. Moranguete!

Mais um espaço para discussão na internet!

ESpero que os posts de meu blog possam auxiliar-nos a aumentar a criticidade e exercitar a reflexão!

João disse...

E aí Felipe... Saudações padovanas!

Esse tema da educação à distância é muito interessante.

Eu tenho uma opinião mista em relação ao assunto.

Por um lado, é positivo no sentido em que mais pessoas conseguem ter acesso a um ensino de nível superior; por exemplo, tanto fazendo cursos de faculdades privadas com mensalidades mais baixas, quanto de faculdades federais (que conseguem oferecer quantidades expressivas de vagas para essa modalidade). Isso se reflete principalmente em cidades do interior, pelo menos em Santa Catarina, que de outro modo estariam completamente alheias à educação de uma Federal. Nesse ponto, mesmo que a qualidade seja inferior (e já vou tocar nesse aspecto), classifico esse movimento como positivo, pelo menos no que diz respeito às carreiras e disciplinas que podem ser contemplados (matemática, pedagogia, administração, etc).

Agora, quanto à qualidade, aí são outros 500. Parece-me um milagre acadêmico reduzir cursos presenciais de 4 anos e meio, 4 anos, a cursos de 3 anos na modalidade à distância. Realmente não acredito que isso ocorra.

Quanto ao lance dos alunos autodidatas ou da necessidade de alunos independentes para esse sistema: acho que eles podem se adaptar às necessidades, mas é essencial que a avaliação seja tão rigorosa quanto nos cursos presenciais. Caso eles passem pelas mesmas provas, digamos assim, acho que não há problema. Agora, se o progresso for "facilitado", temos um problemão.

Um outro ponto sobre o qual não vou me aprofundar até por não ter elementos para uma discussão refere-se ao lançamento no mercado de uma quantidade muito grande de profissionais de certas áreas devido ao EAD, cujas conseqüências podem ser problemáticas. Além disso, pode-se verificar também uma desvalorização dos diplomas de cursos presenciais.

No entanto, acho que o EAD deveria ser adotado como modalidade parcial em praticamente todos os cursos universitários. Chutando por alto, 30 a 40% das disciplinas de qualquer curso presencial provavelmente poderiam ser adaptadas para o EAD, especialmente quando se trata de aspectos mais teóricos. Nesse sentido, poderia ser muito útil uma incorporação de uma proporção da carga horária nos termos de EAD, mantendo presencial o que deve ser assim; seria a escola "do futuro". E isso pode dizer respeito não sempre a disciplinas inteiras, mas talvez a porções de disciplinas, propiciando uma otimização.

E por fim, o EAD seria muito útil no caso das disciplinas e reuniões de pesquisa de pós-graduação. Com turmas pequenas (20 alunos), a videoconferência torna-se praticamente equivalente ao modo presencial. Poderia haver uma estrutura presencial nas universidades com as aulas de pós se desenrolando normalmenet e equipamento de EAD possibilitando que estudantes de outras regiões acompanhem o curso mesmo à distância. Considerando a especificidade de alguns campos de pesquisa, isso viabilizaria que estudantes do norte ou nordeste fizessem mestrado ou doutorado numa instituição do sul, por exemplo, realizando a carga horária de disciplinas em suas cidades, e reduzindo bastante a necessidade de deslocamentos, dependendo do projeto. Mesmo orientações poderiam ocorrer desse modo. Além disso, o estudante de pós já possui maior independência.