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janeiro 31, 2008

"...mas o que os outros vão dizer?"

Quantas vezes você desejou sair correndo pela rua, cantando uma bela música, ou então, colocar aquela roupa bem velha, mas muito aconchegante, para ir até a padaria, ou qualquer outro desejo que teve, mas não realizou porque imediatamente apareceu o seguinte pensamento: " eu fazer isso?...mas o que os outros vão pensar?"
Diariamente tolimos nossos desejos e vontades simples, uma vez que imaginamos que os outros (que na maioria das vezes não sabemos quem são), podem nos reprovar, e podemos ser vítimas de chacota.
Não percebemos, mas vamos criando barreiras e máscaras sobre aquele que realmente somos, esquecemos de nós mesmos, aliás vamos moldando nosso jeito de ser através de projetos que imaginamos que serão os mais bem aceitos pelo grupo, pela sociedade.
Sem dúvida temos que reconhecer, e a psicologia do desenvolvimento apresenta com muita propriedade esta questão, do fato do ser humano ser um animal gregário por natureza, dependente do grupo, que deseja ser aceito pelo grupo, que precisa da aprovação do grupo, mas daí até a anulação a natureza pessoal de cada um é um passo que a maioria das pessoas dão, senão todas.
O mecanismo da agragação do ser humano, da necessidade da vivência em grupo foi sucumbido pelo mesmo mecanismo do capitalismo. Neste o ser pertence se consome e assim por diante, este mesmo mecanismo modulando o que o sujeito deve ser, como, quando, com que roupa, de que forma.
Agora entendo porque chamamos sistema capitalista. É um sistema por conta de que age em tudo e todos, de diversas maneiras, sendo diretas, indiretas, transversalmente e em todos os fatores da vida.
E a frase "mas o que os outros vão dizer?" vai modulando, cristalizando, sucumbindo os seres, que a cada dia sofrem, desenvolvem transtornos, e deixam de viver e por vezes não se permitem nem mesmo adoecer (mesmo estando doentes) dizendo "mas se eu disser que tenho depressão, o que vão falar de mim, vão pensar que sou um fraco, um louco, um mentiroso, um vagabundo?!"
Bem, este é um pequeno ensaio para pensarmos quantas vezes deixamos de fazer algo imaginando que seriamos julgados negativamente pelos outros. Pense no que mais deseja fazer agora. Por que você não faz? O outro está envolvido nesta decisão de não fazer?
Que tal experimentar fazer algo que você imagina que outro irá reprovar para ver como se sente. Garanto que no início você se sente observado, sentesse errado, no lugar errado, mas depois você percebe quem você é realmente, você vai sentindo você, mais e mais. O outro não deixa de ser importante, mas você também sente que realizar pequenas vontades é muito prazeroso, pouco a pouco você se assume e assume responsabilidades e consequências de seus atos, não em função dos outros, mas porque você também desejou fazer assim.

Um comentário:

João disse...

E aí rapá

Primeiro o João Científico falando. Acho que mais que a psicologia do desenvolvimento, a psicologia social oferece elementos acerca desse fenômeno. Há influência social (conformismo), facilitação social (mudança de probabilidade de ocorrência de um comportamento na presença do outro - e isso pode ser uma presença "simbólica" hehe), pressões normativas, e num nível mais macro, as representações sociais e sua modulação pelo nível ideológico (aqui se encaixaria o teu comentário sobre o capitalismo). Se tu te interessa sobre esse tipo de questões, bem tu caiu no mestrado certo e na área certa hhehehe

Agora o meu João Senso Comum: eu acho que é importante que o cara seja ele mesmo, tem que respeitar algumas convenções mas não se render ao que os outros pensam ou sentem cegamente. Se a pessoa faz isso, só quem se incomoda é ela.