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abril 11, 2011

Não para onde, mas como vamos?

A história da humanidade e por conseguinte, da ciência, da filosofia, das religiões, é marcada pela tentativa de explicar de onde viemos, para onde vamos, enfim, são páginas e mais páginas que tentam desvendar mistérios, construir verdades, compreender o fenômeno que a vida humana e sua história. E tentativas parecidas são elaboradas de forma especulativa no enorme desejo do homem controlar seu futuro, buscando prever os fatos e acontecimentos, prova disso é a existência de adivinhos desde muito tempo atrás, até os dias atuais. Serviços por vezes até bem pagos para descobrir o nome ou o tipo do amado, afinal quem já não viu no final do ano nos programas de entretenimento brasileiros as mães Diná's, jogadores de búzios, leitores de cartas, tarot e tantas outras peripécias que nos são mostradas.

Bem, hoje quero pensar um pouco no como estamos indo para o futuro. O que tem se observado no sujeito pós-moderno é uma frugalidade e velocidade estonteantes, ninguém, que viva a intensidade dos dias modernamente líquidos, tem tempo, é uma queixa, um sofrimento, olhar no relógo quase um martírio, agendas de celulares que apitam o próximo compromisso, e-mails que chegam e partem alucinadamente de suas caixas, digitados e "dedados" com a mesma velocidade com uma língua quase própria.

A velocidade é tamanha que tentamos quase alcançar a velocidade da luz nas nossas digitações, não mais conseguimos lidar com a demora da abertura da página de recados da rede, daquele e-mail que acabamos de enviar e não tivemos resposta (afinal já se passaram 3 minutos depois que cliquei em enviar!). Tal velocidade tem marcado nossas relações, nossas paixões e amores. Cada vez mais vemos as relações se iniciarem e desfazerem com grande aceleração, seguindo a mesma velocidade que temos vivido. E a frustração da velocidade menor é alvo de raiva, desejo de morte, crítica de consumo - como diz Baumann - ou seja não conseguimos lidar com ela, com o desprazer. O sofrimento, componente do humano, assim como a frustração é incompreensível, parece que é algo que não pode mais fazer parte.

Além desses marcadores, temos assistido uma volúpia no que tange a relação do humano com seu corpo. Não sei se em alguma outra época ele foi alvo de tanta reengenharia na busca do belo que nunca chega! Aliás é um corpo que tem um significado simbólico que vira mania, doença, sofrimento, ou seja, é uma busca por uma ideal que não se atinge, não se conhece, podemos dizer que o humano hoje parece fugir de si, quando o assunto é seu corpo. 

É nesta "velocidade estonteante" que temos ido ao futuro desconhecido, como sempre foi e continuará sendo. É esta nossa realidade que temos construído e que nos constrói. Me parece que é dessa forma que temos ido e estou começando a desconfiar que para viver tal liberdade (se é que não estamos vivendo na quase libertinagem) estamos pagando um preço caro. Assim como os vencedores de corridas automobilísticas fazem, precisamos aprender a utilizar o freio, caso contrário o choque será contínuo e aquilo que tanto relutamos em entrar em contato e viver será nossa, quase única possibilidade, o sofrimento.
Esta reflexão quer provocar novas reflexões, não tem pretensão de verdade, mas de combustível para a filosofia leiga.

Abraços

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