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abril 10, 2008

Teoria e prática - um discurso que arrepia!

Olá Pessoal!
É bom saber que alguém, ai do outro lado para alguns segundos e lê as idéiais que seguidamente (pois não chega a ser diariamente) estou postando aqui.
Hoje (madrugada de quinta-feira) quero falar um pouco sobre um discurso que ouço recorridas vezes sobre a teoria e a prática. A frase é quase sempre a mesma, varia muito pouco, normalmente aparece quando estão, diferentes estudantes ou profissionais em formação discutindo sobre seus fazeres, suas práxis e lá pelas tantas a conversa toma o seguinte rumo "...mas veja bem, temos que ter clareza que a teoria é um coisa, a prática é outra...", ou, "no livro a 'coisa' aparece bem bonitinha, fácil de compreender, mas vai ver na prática como é!...". Esse é o discurso que arrepia e é sobe ele que quero falar.
Confesso que já parei várias vezes para tentar entender/compreender, o que as pessoas querem dizer, tanto que já cheguei a perguntar para alunos e também profissionais, sobre o que estariam se referindo, o que isso que falavam queria dizer, meu intuito era buscar saber se tal discurso tinha outro significado por trás que não estava conseguindo pegar, mas não, era o discurso e o significado puro "teoria uma coisa, para estudar, prática outra coisa sem relação com a teoria, algo para viver e praticar", mais ou menos isso.
Na minha luta incessante para compreender o que queriam dizer, cheguei a passar algumas horas em debates acirrados, mas sem muito êxito, tanto em modificar o pensamento dos meus interlocutores, quanto na insistência de acreditar que tais frases não diziam somente o manifesto, ou seja haveria algo por trás, mas que nada!
Agora que já contextualizei o espaço e o tema que estou tratando, deixe-me apresentar algumas idéias sobre o que penso a este respeito.
O discurso me arrepia, pois como professor universitário, fico pensando nos alunos que estamos formando. Sim, a universidade é o espaço da ciência, da teoria, da construção científica, do debate científica, da prática científica, enfim da ciência, neste sentido as teorias, sejam elas de qual área forem se apresentam, surgem, são elaboradas, testadas, aprovadas ou não, replicadas, enfim sofrem as sanções da ciência para que possam se sustentar. Ao fazer isso passam a ser discutidas, ensinadas, refletidas nos diferentes cursos de formação - quero aqui focalizar na psicologia que é minha área - e assim é feito por entender-se que é o processo natural e necessário para que a pessoa possa ao final de um curso de graduação dizer, no meu caso, sou psicólogo, ou engenheiro, advogado, médico, etc.
A teoria, ou as teorias são as pautas que nos guiam na práxis, guiam a nossa reflexão, guiam o nosso fazer. São elas que nos permitem avançar, retornar, pensar, praticar a ciência que escolhemos para fazer. Se entendemos desse jeito a teoria é o pano de fundo, é a linha mestre, é o alicerce de nossa prática, portanto não se pode dizer que teoria é uma coisa e a prática é outra, mas sim que a teoria é substrato, subsídio, é fundamental para a prática, ou seja, a prática, esta científica logicamente, é insustentável sem a teoria. Do contrário estamos fadados aos fazer através do achismo, da tentativa e erro, daquilo que imagino ser certo ou que me agrada.
Diante disso, analiso o discurso arrepiante como reflexo do desconhecimento das teorias. Alunos e profissionais que apresentam tais discursos, se questionados que teoria seguem, não serão capazes de explicar, pois não sabem, não (re)conhecem, o que seguem, aliás se forem "moralmente corretos" dirão que não seguem teoria, pois a prática é outra, ou seja, aquela que imaginam ser correta, porém sem pauta, sem subsídio científico para validar tal discurso e tal prática. Esse discurso pode ser encarado também como uma tendência do "comportamento de pouco estudo", ou seja, ele indica que o profissional, o aluno, é uma pessoa que não se atualiza, não busca pautar sua prática, na ciência e nos pressupostos teóricos que esta possui.
Eis um desabafo e um convite à reflexão!
Seria a teoria uma coisa e a prática outra? Não, este discurso não serve, ele arrepia, ele "mal-trata" a ciência, seu rigor na validação das teorias, dos saberes. Como disse antes, tenho como plano de fundo deste escrito a psicologia, seus alunos e profissionais, e aplicando esse discurso arrepiante o que se vê é uma PSICOLOGIA do ACHISMO, ou seja, ao serem questionados, os motivos de estarem fazendo (alunos ou profissionais) desse jeito, a resposta é a mesma "eu achei que seria melhor assim...", "penso que assim seja bom para este grupo...". Raros, mas fantásticos os casos em que se pauta o fazer cietificamente, como por exemplo "esta reação do grupo é típica do comportamento integrupal conforme as idéias de Kurt Lewin..." O discurso soa diferente, ele tem mais peso, tem consistência, está fundamentado.
Bem, pessoal, por hoje eram essas as idéias. Como o nome do blog diz, "palavras livres", os comentários a este post serão bem vindos, inclusive as contraposições!
Abraços!

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